Mais de metade dos jovens vêem conteúdos extremistas online

Seis em cada dez jovens entre os 12 e os 18 anos são expostos a conteúdos extremistas online, de acordo com um estudo agora divulgado na Irlanda pelo Provedor de Justiça para as Crianças.

Um Olhar Europeu com RTÉ /
RTÉ



A discriminação e a revalorização dos papéis tradicionais de género são um tipo de conteúdo que os jovens observam regularmente, enquanto um quarto das crianças inquiridas afirma que os amigos têm opiniões que podem ser consideradas extremistas.

Participaram no inquérito 626 crianças, com idades compreendidas entre os 12 e os 18 anos, de 28 escolas secundárias de toda a Irlanda, que falaram sobre a forma como se sentiam expostas a conteúdos extremistas online.

Quando as respetivas escolas aceitavam participar no inquérito, cada aluno podia decidir se queria ou não participar. A participação das crianças foi anónima e apenas as escolas foram identificadas.

O inquérito intitulado "Extremismo, Discriminação e Papéis de Género - um inquérito online sobre as opiniões dos jovens relativamente a questões sociais emergentes na Irlanda moderna" foi realizado pelo Provedor de Justiça para as Crianças em conjunto com a empresa Amárach Research, entre 5 e 23 de maio deste ano.

Em declarações à RTÉ, o Provedor, Niall Muldoon, afirmou que as conclusões do estudo são preocupantes. "Só queríamos saber se as crianças estavam a ser expostas e o que pensavam sobre isto", afirmou."Temos cerca de 2500 crianças a passar pelo nosso gabinete todos os anos e ouvimos essas opiniões. Realizámos o inquérito em escolas secundárias de toda a Irlanda e apenas lhes perguntámos, não descrevemos o que eram opiniões extremistas, pedimos que as descobrissem por si próprios".

O Provedor salienta que "69% concordam que a discriminação é um problema... Para mim, a grande questão que se coloca também é o facto de o universo do online ser tão importante para eles. 63% ouviram as opiniões online e apenas 6% as ouviram pessoalmente. Para mim, resulta muito clara a compreensão do mundo atual".

Muldoon afirmou ainda que muitas das crianças inquiridas disseram que não concordavam necessariamente com as opiniões a que estavam a ser expostas.

"Alguns deles dizem que os seus amigos têm opiniões de extrema-direita, outros afirmam que não concordam com as opiniões dos amigos", disse o Provedor de Justiça das Crianças. Contudo, no ambiente online, podem não estar em posição de o contrariar essas opiniões, alerta."As crianças disseram que têm mais dificuldade em contrariar uma figura de autoridade ou em desafiar um dos seus amigos de determinadas formas."É algo que temos de começar a aprender, ensinando-os a fazer isso e a defenderem-se a si próprios e a reconhecerem quando se trata de uma narrativa falsa e também quando se trata de desinformação".

Muldoon referiu ainda que o inquérito revela uma clara diferença de género em relação a conteúdos extremistas.

"Perguntámos-lhes quem era mais suscetível de ser visto como tendo opiniões extremistas e a resposta foi muito clara: 64% dos inquiridos disseram rapazes e homens e apenas 17% disseram raparigas e mulheres", afirmou. "Sabemos que estes conteúdos têm como alvo os jovens, os rapazes, em relação a este tipo de áreas, para obterem clickbaits que os levem a este tipo de círculo de informação.Um dos aspetos que nos preocupa é o conceito de algoritmo de recomendação."Se um jovem rapaz recebe de um amigo algo que pode ser extremista e clica, de repente é inundado. Não tem de ser assim e temos de começar a trabalhar nesse sentido também".

Muldoon considera que um dos aspetos positivos do relatório é o facto de metade dos inquiridos ter afirmado que o principal influenciador são os pais ou tutores."O mundo da vida real continua a ser o mais importante influenciador que eles têm."

O Provedor acrescentou que é favorável a que os debates sobre a desinformação sejam incluídos no currículo escolar, porém, considera que antes disso é necessário um debate mais alargado."Penso que esta questão tem de ser falada em toda a parte. Não faz sentido estar no currículo escolar se os alunos vão para casa e os pais não falam sobre o assunto", afirmou."É preciso que seja transversal. A sociedade tem de falar sobre o assunto e tem de ajudar as crianças a compreender que a Internet é um local onde se podem encontrar falsidades."A desinformação é uma realidade, temos de a contestar, e temos de os ensinar a contestá-la", conclui.

David McCullagh / 3 Dezembro 2025 11:57 GMT

Edição e Tradução / Joana Bénard da Costa - RTP
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